Dinheiro Sujo

*Por Barbosa Nunes
A Casa da Moeda do Brasil, fundada em 8 de março de 1694, em Salvador, pelos governantes portugueses, é desde então a responsável pela fabricação do nosso dinheiro, imprimindo cédulas, moedas, passaportes e selos fiscais.
Inúmeros utensílios já foram usados como dinheiro  em diversos momentos da história, para compra e pagamentos de serviços, como presas de javali, contas de vidros,  ovos, pena de avestruz, pele de animais, prego, mandíbulas de porco, anzóis, arroz, sal, escravo, marfim, conchas e até crânios humanos. Leia mais
Com o tempo surgiu a necessidade de utilização de materiais resistentes, iniciando-se o uso de metais, como ouro, prata, bronze e cobre.
As primeiras moedas de metal surgiram aos 700 anos  “a.C”  na Grécia. O papel moeda apareceu alguns séculos depois.
A Casa da Moeda Brasileira fica no estado do Rio de Janeiro,  ali sendo impresso o dinheiro. O papel é produzido pela Indústria Papel Salto, que fica na cidade de Salto, de lá saindo com marca d’água e fio de segurança, após, recebendo as imagens que serão impressas.
O dinheiro hoje é uma questão estipulada em moedas ou notas de papel, cédulas, que nós usamos para compra e pagamentos os mais diversos. Cada país decide que tipo de dinheiro vai usar. No Brasil a unidade básica é o Real.
O dinheiro sai da Casa da Moeda, entrando em circulação, muito limpo. Mas à medida que vai passando de mão em mão recebe uma grande quantidade de microorganismos de quem o manipula. É bom ficar atento, pois podemos nos contaminar, principalmente pelas notas mais velhas, sujas ou coladas por fitas adesivas.
As  cédulas são  contaminadas, muitas vezes  por pessoas que tocam nos alimentos e no dinheiro ao mesmo tempo, em bares, padarias e açougues. Ou o dinheiro cai em solo contaminado por fezes ou esgoto, imediatamente se contaminando.
Um estudo da PUC do Paraná, em 200 cédulas de real em circulação na cidade de Curitiba, revelou que até 73,5% apresentaram contaminação por bactérias, algumas podendo provocar infecções intestinais e outras até pneumonia. As notas que mais apresentaram o problema foram as de R$ 1 e de R$ 5, pelo manuseio intenso delas.
O dinheiro é nosso companheiro inseparável, mas é uma grande fonte de contaminação. Durante 1 ano,  a bióloga Fernanda Ribeiro, coletou 200 cédulas, sendo 50 de cada valor, R$ 1, R$ 5, R$ 10, R$ 50. Nas de menor valor, novamente presença de bactérias diferentes.
Estudo conduzido por cientistas de Oxford, Inglaterra, concluiu que as notas de bancos europeus, contém em media, mais de 26 mil bactérias. A professora Ivone Maria, orientadora da pesquisa na PUC do Paraná, afirma “O dinheiro é manipulado por praticamente todas as pessoas no dia-a-dia e nos mais diversos lugares, alguns extremamente delicados, como hospitais”.
Outra pesquisa nos Estados Unidos apontou que 90% das notas do dinheiro que circulam no país em grandes centros, contém traços de cocaína. Em Washington a porcentagem foi para 95%. No Brasil, em grandes metrópoles, de 10 cédulas, 8 continham traços de cocaína.
Dinheiro é muito bom, sempre muito bem vindo, mas também faz mal a saúde. Dinheiro na mão é risco de infecção. Evite pegá-lo ao máximo para evitar a contaminação. O recomendável é lavar as mãos com água e sabão, após tocar cédulas e moedas.
Mais há outro dinheiro, mais sujo ainda, dinheiro repugnante, obtido através do cancro da corrupção. Originário das grandes negociatas, enfraquecendo as mais variadas áreas sociais, como educação, saúde, habitação, saneamento, infraestrutura e muitos outros.
Suas cédulas são imagem da fome, falta de medicamentos, policias desassistidas, professores ganhando mal, contrabando de armas, mercado da venda de drogas e infinitos males. Se aplicado em favor da população,  poderia amenizar a nossa triste situação. Isto se os administradores, especialmente os políticos, fossem operadores que não facilitassem, não incentivassem, a dissimulação de sua origem ilícita.
A expressão “dinheiro sujo” aparece pela primeira vez no jornal inglês “Guardian”, e populariza-se nos anos 70.
Mas esse dinheiro sujo é “lavado”, através das já muito conhecidas  “lavanderias de dinheiro”. A origem lendária desta expressão remonta a Al Capone, que em Chicago, para fazer depósitos de dinheiro sujo em suas contas, resultado do comércio de vendas de bebidas alcoólicas, na época da lei seca e outras atividades criminosas, como exploração da prostituição, jogo e extorsão, comprou uma cadeia de lavanderias, que dava lucros imensos, incalculáveis, mas somente nos documentos contábeis. O dinheiro ilícito estava então lavado, branquiado. A maneira mais comum é por meio de empresas falsas, de fachadas, montadas por criminosos que acusam êxito empresarial e altos rendimentos.
Na camuflagem a origem, o nascimento do “dinheiro sujo”. Inicia nas licitações fraudulentas, superfaturamento, desvios, tráfico de drogas, prostituição, mercado de armas e outros.
O dinheiro corre uma longa viagem para ser “lavado”, caminha por varias operações financeiras, com trânsito pelo paraísos fiscais e trocas de donos várias vezes, para dificultar o rastreamento, retornando sempre por “laranjas”. Pessoas que servem com intermediárias, recebendo pagamentos vindos de bancos e empresas internacionais, passando a ter aparência de legal. Nós estamos cansados de ouvir essas notícias referentes aos doleiros, sempre disponíveis para este crime, como ocorre atualmente com um laboratório fantasma e envolvimento de  pessoas importantes na política brasileira.
Mas a situação melhora. A imprensa cada vez mais investigativa municia a Policia Federal, Ministério Público, Defensoria Pública, corregedorias. Estes e muitos outros órgãos, com realce para liberdade e coragem da população em fazer denuncias, estão se aperfeiçoando para levar muitos “tubarões” às barras da justiça.
Nossos votos são de que a imprensa brasileira continue cada vez mais apoiada na pratica do jornalismo investigativo, que tem possibilitado abertura de inúmeros procedimentos, conduzindo os casos à Polícia Federal, ministério publico e judiciário, para o justo acerto de contas, com muitas “casas caindo”. Esperamos que muitas “lavagem de dinheiro”, ainda escondidas, sejam reveladas, em favor de um pais mais justo e honesto.”


* Barbosa Nunes é Grão-Mestre Geral Adjunto do Grande Oriente do Brasil

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