Fonte: Pedra Oculta
St. Reinold acredita-se
ter sido um mártir religioso que viveu por volta de 980 a.C., ele teria sido
morto pelas mãos de companheiros de ofício pedreiros[1] e
posteriormente viria a ser idolatrado como santo padroeiro deste ofício.
Existem várias versões de sua vida e martírio. St. Reinhold poderia
ter sido um monge, um cavaleiro, um peregrino ou até mesmo todos os três. Sua
história pode ter se originado da vida de várias pessoas diferentes numa
confluência de mitos e lendas. Mesmo sua morte pode ter tido várias versões ou
motivos.
Numa
primeira versão, Reinold seria um monge beneditino do mosteiro
de São Pantaleão, em Colônia na Alemanha. A
ele foi confiado o dever de supervisionar as obras de construção que
completariam a abadia. Reinold então teria sido assassinado
por outros pedreiros que também trabalham na construção. Eles o espancaram até
a morte com seus malhetes e posteriormente lançaram seu corpo em um fosso ou
afluente do rio Reno[2].
Em certa narração, Reinold é
morto devido a sua "diligência extrema", que teria provocado à
hostilidade e ressentimento dos companheiros de ofício. Numa outra é
narrado que ele teria sido assassinado por certos companheiros que estariam
incomodados por sua força de trabalho e habilidade superior.
Os
irmãos monges de Reinold foram incapazes de encontrar seu
corpo até que seu paradeiro foi dado conhecimento por uma revelação velada de
uma pobre mulher enferma. Seu corpo então foi levado de volta para o mosteiro e
sepultado com honrarias.
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Noutra
versão a narrativa de St. Reinold teria sido originada a
partir da história de Renaud (Reinold em francês), o filho
mais novo de Duque Aymon[3] da
França. Ele supostamente era um descendente de uma irmã de Carlos Magno (e
naturalmente membro de sua corte), e o quarto filho mencionado no poema
romântico de William Caxton, Romance of Foure Sonnes of
Aymon.
Os
quatro filhos do Duque Aymon seriam Renaud, Richard, Alard e Guiscard,
e seu primo seria o mago chamado Maugis. Maugis foi
iniciado nos mistérios pela fada Oriande la Fee. Ele havia ganhado
um cavalo mágico chamado Bayard, que podia entender a língua humana
e a célebre espada mágica Froberge quais mais tarde presentearia a Renaud.
A
mais antiga versão existente da história de Renaud de Montauban e
seu primo Maugis, era anônima e escrita em francês arcaico na
forma de uma canção de gesta[4] chamada Quatre
Fils Aymon que data do final do século XII.
No
conto, Renaud e seus três irmãos eram filhos de Aymon de Dordone.
Eles fugiram da corte de Carlos Magno após Renaud ter morto
outro dos sobrinhos de Carlos Magno em uma briga durante um
jogo de xadrez, Renaud espanca seu adversário até a morte com
o próprio tabuleiro do jogo[5]. Uma longa
guerra segue-se, durante a qual Renaud e seus irmãos
permanecem fieis ao código de cavalaria cristã.
Após
cessarem-se os conflitos, os irmãos são perdoados com a condição de Renaud ir
à Terra Santa em cruzada (ou em peregrinação para expiar seus
erros) e Bayard seu cavalo mágico (que podia expandir seu
tamanho e transportar os quatro irmãos de uma só vez, e imediatamente remete ao
brasão dos Templários onde 2 cavaleiros compartilham uma única montaria)
deveria ser entregue ao rei.
Carlos Magno havia
dado ordens para que Bayard fosse afogado no rio Meuse preso
a uma pedra, mas o cavalo acaba fugindo e passando a viver eternamente nas
florestas de Ardennes.
Após
suas aventuras belicosas na Terra Santa, Renaud volta
para França. Em seu retorno, ele abandona seu lar e entrega-se à religião. Ele
então faz o seu caminho para Colônia na Alemanha e
ingressa no mosteiro de São Pantaleão, onde passa a trabalhar como
pedreiro na Igreja de São Pedro[6]. Renaud por
fim é assassinado por ciúmes dos companheiros pedreiros. Seu corpo é
milagrosamente salvo do rio e magicamente refaz o seu caminho para casa para e
seus irmãos em uma carruagem.
Na
arte, St. Reinold é comumente representado com armadura, que
refletiria a tradição de que ele havia sido um soldado antes de entrar na vida
monástica. Ele também é mostrado como um monge beneditino portando um malhete,
sendo assassinado por pedreiros ou morto e sendo lançado na água.
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No
livro “The Secret History of Freemasonry” ainda podemos encontrar a seguinte
versão para a lenda: Devemos encarar como uma coincidência o fato de
que os elementos da legenda de Hiram também estão presentes no início da canção
de gesta "Os Quatro Filhos de Aymon “? Neste texto vemos Renaud de
Montauban, que, depois de seguir uma vida pouco edificante e desejoso de expiar
seus pecados, empenha-se na construção da catedral de Colônia. Sua força e
habilidades incomuns chamavam a atenção e eram assuntos quais todos os mestres
comentavam. Tão logo seus companheiros de ofício sentiram-se menosprezados e
conspiram por uma causa comum: Eles temiam que Renaud fosse comprometer seus
empregos. Eles o atacariam golpeando-o com malhetes quando este não estivesse
vigilante e, em seguida, livrar-se-iam de seu corpo em um saco qual lançariam
ao rio Reno. Na época, eles costumavam alimentar-se quando "o mestre de
obras e os trabalhadores seniores" deixavam o canteiro de obras para irem
a Osteaux (Auvergne), justamente quando eles puseram seu plano em prática.
Entretanto, seu crime não permaneceria em segredo por muito tempo. Os peixes no
Reno, reunidos por um milagre, empurraram para cima o cadáver, que agora estava
iluminado por três velas[7].
Os assassinos completamente aturdidos com a situação não tiveram alternativa a
não ser cumprir penitências.
Conforme
acertadamente cita Paul Naudon em “The Secret History of
Freemasonry” o Martírio de St. Reinold e a Assassínio
de Hiram Abiff coincidem em diversos pontos em suas próprias
narrativas. Ambos protagonistas estão trabalhando e/ou supervisionando as obras
de construção de um Templo em terras estrangeiras,[8] são
assassinados por invejosos companheiros de ofício, têm seus cadáveres ocultados
e por fim há uma busca por seus corpos pelos demais companheiros que lhe rendem
as honrarias devidas.
É
importante ainda frisar que o peculiar nome Ayman figura em
ambas as lendas, além de outros detalhes como o golpe fatal ser desferido por
malhete também figurarem. A questão é que os primeiros registros das gestas
sobre St. Reinold são anteriores (século XII) as primeiras
menções aHiram Abiff na ritualística da maçonaria especulativa
(século XVII).
Soma-se
ainda ao fato, que é possível encontrar outros elementos utilizados na
narrativa doAssassínio de Hiram Abiff e desassociados da
mesma em outra Antiga Obrigação denominada de
Manuscrito Graham. Seria o Assassínio de Hiram Abiff uma
lenda inglesa e anglicana recortada da antiga canção de gesta francesa e
católica do Martírio de St. Reinold tão popular
entre os maçons daquele período?
Qualquer
que seja a origem ou antiguidade de ambos os mitos é inegável que carregam
alegorias de caráter universal pertinente a todo Iniciado. Numa
junção dos mitos, essa Canção sobre Pedra nos ensina que o
trabalho esforçado e hábil pode despertar o mal alheio no coração dos homens,
mas que não devemos ceder a aqueles que se deixam vencer pelas paixões e
vícios. Podemos até sofrer pelas mãos dos perjúrios, mas o nosso trabalho
ascende pela retidão de nossas ações e pelas vozes de nossos bons irmãos...
REFERÊNCIAS
The Secret
History of Freemasonry: Its Origins and Connection to the Knights Templar
[1] Na idade média, houve registros
de uma série de catedrais e abadias nas quais pedreiros ou maçons livres
trabalhavam em sua construção, mantendo-se aparte dos trabalhadores locais que
ali também labutavam, ambos os grupos agiam sob as ordens do mesmo tipo de
autoridade eclesiástica.
[2] Em outro mito adjacente ao Assassínio
de Hiram Abiff na cultura maçônica, Osíris é
morto (deixando Hórus seu herdeiro Filho de Viúva
assim como era Hiram) e também tem seu corpo lançado em um rio
(Nilo).
[3] Três versões das Antigas
Obrigações (de 1670, 1680, 1690) dão o nome de Aymon ao mestre
construtor do Templo de Salomão em pessoa, em substituição a Hiram Abiff como
comumente visto na cultura maçônica.
[4] As canções de gesta (em
francês “chansons de geste”) são um conjunto de poemas épicos surgidos no raiar
da literatura francesa, entre os séculos XI e XII. Essas canções exerceram
grande influência na literatura medieval, tanto em sua região de origem como
por toda a Europa, e, mesmo com o fim de Idade Média, sua influência continuou
a sentir-se na literatura e até no folclore.
[5] É possível inferir neste
detalhe até uma suposta alusão ao Pavimento Mosaico que tem desenho análogo ao
tabuleiro de xadrez.
[6] A localização da narrativa em uma Igreja
de São Pedro (santo cujo nome original era Simão) qual
nome deriva de “pedra” pode também ser referência ao ofício de maçonaria ou a
construção em pedra qual St. Reinold era trabalhador e
acabaria por torna-se padroeiro. Em Mateus 16:18, Jesus diz:
"E eu te declaro: tu és Kepha e sobre esta Kepha edificarei
a minha Igreja(...)." Jesus comparava Simão à pedra, pois Kepha que
em aramaico significa "pedra" foi traduzido para o grego como Petros,
através da palavra Petra, que também significa "pedra".
[8] Hiram Abiff era
fenício sendo morto em Jerusalém por companheiros locais assim
como St. Reinoldera francês e morto na Alemanha.
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