DISCURSO SOBRE A SOBERBA. A IRMÃ DO ORGULHO, DA ARROGÂNCIA E DA VAIDADE

Por (*) Ronaldo Zanata Pazim


Dizem que um dos maiores inimigos do homem é inerente a ele mesmo: o seu ego. Existe uma fábula sobre uma rã que se perguntava como poderia se afastar daquela região fria, em pleno inverno.

Alguns gansos sugeriram que ela emigrasse com eles, mas o problema é que a rã não sabia voar. "Deixem-me pensar - disse a rã - tenho um cérebro fora do comum". Então pediu ajuda a dois gansos: acharam um galho forte e cada um deles sustentou o galho por uma extremidade. A rã segurou-se ao galho, pela boca.

Os gansos e a rã faziam o voo quando, em certo momento, passaram por uma pequena aldeia, de onde os habitantes saíram para ver o inusitado espetáculo. E alguém perguntou: "De quem foi tão brilhante ideia?".

A rã, toda orgulhosa e se sentindo a mais genial, a mais importante das criaturas, respondeu com ênfase: "Fui eu"! Eis então que o orgulho descomedido da rã foi a causa da sua própria ruína, pois no momento que abriu a boca, soltou-se do galho, caiu e morreu.

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A soberba sempre foi censurada através dos séculos, por todas as doutrinas humanitárias e por todas as religiões de que se tem notícia.

Para a maçonaria não é diferente, pois ela vista como uma eficiente pedra de tropeço, uma ponta nefasta da pedra bruta que precisa ser desbastada, uma voluntária condenação espiritual do homem.

A soberba é um sentimento que se caracteriza pela pretensão de superioridade sobre as demais pessoas, seja por acreditar que é o melhor no que faz, no que decide, no que sabe, no que tem ou na sua capacidade de resolver as coisas.

A 1ª Epístola do apóstolo João adverte que a soberba é a semente de todo pecado. Aliás, para a Igreja Católica, a soberba é considerada um dos sete pecados capitais (CIC, nº 1866), sendo associada ao orgulho excessivo, à arrogância e à vaidade, próprios do demônio Lúcifer (“a Estrela da Manhã”) e ao planeta Vênus.

Para muitos teólogos, a soberba é o pilar de toda a transgressão do homem. Isso porque a soberba é considerada como o pecado original, uma vez que existia muito antes do homem e da criação.

Uma linha teórica acredita que Satanás, o anjo caído, corrompeu-se em soberba. O livro de Isaías, por exemplo, relata a queda do anjo: “derrubada está na cova a tua soberba (...), serás precipitado para o reino dos mortos, no mais profundo abismo”.

No entanto, outros estudiosos rejeitam essa ideia porque, para eles, a soberba só surgiu com o homem. Além do cristianismo, o judaísmo e o islamismo também atribuíram à soberba vários conceitos como semente do mal, destruidora dos homens, maldição e queda do espírito, ruína e crimes da alma, praga maldita, paixões da carne, etc.


No poema de Dante Alighieri, “A Divina Comédia”, o purgatório principal é composto por sete círculos que representam os sete pecados capitais. E logo no primeiro círculo encontram-se os “orgulhosos” (ou os soberbos), apontados como os que mais se distanciam de Deus, já que ali se encontra o alicerce para uma vida de pecado. E por alguma razão esse veneno do orgulho e da soberba sempre foi perigoso, de uma forma notável, na vida de líderes espirituais.

Mesmo com pouco estudo é possível conferir  que o orgulho, mais do que qualquer outro pecado, foi a causa da derrocada de muitos personagens da história que assumiram posições de influência sobre o povo de Deus.

De olhos embotados pelo véu da ignorância, o soberbo se sente autorrealizado, querendo mostrar-se para os outros a todo preço, desejando a sua admiração, como se isso elevasse sua estima ao máximo e lhe trouxesse prazer.

O soberbo quer superar sempre; não aceita ser como a média, não aceita ser como os demais. Ele precisa se destacar, tem necessidade de grandeza e valorização. Exige respeito, reconhecimento, aplausos. Mas quando é superado, o soberbo logo se deixa dominar pela inveja, querendo depreciar os outros e vangloriar-se. Se não consegue ser o mais inteligente ele então desejará e será o mais ignorante, falando sobre isso o tempo todo para que, seu interlocutor, ao ouvir a depreciação passe a elogiar o soberbo mesmo que seja por educação.

E não é só quando fala com atrevimento e empáfia que o soberbo se revela. Não é apenas com uma fluidez e uma eloquência impositiva de “verdades sublimes” que a soberba sobressai, pois ela também se faz presente até mesmo no silêncio dos pensamentos quando o soberbo se vê numa resistência intelectual ao que provém dos seus demais, e, ao ouvi-los, diz para si mesmo coisas do tipo: “eu já sei tudo sobre isso”, “quem ele pensa que é para me ensinar alguma coisa”, “primeiro ele precisa crescer, para depois ele vir falar alguma coisa de mim”.

Do mesmo modo, a soberba não ocorre só em matéria de conhecimento, mas também há soberba de poder econômico (“ele vai ver o que eu faço com ele”), de posses materiais (“o meu carro é muito melhor do que o dele”), de posição hierárquica (“aqui quem pode criticar sou eu”), e até das situações vantajosas em geral, como ocorre quando alguém se acha o maioral só por conhecer autoridades e pessoas influentes.

Para a Maçonaria, que tem como um dos seus propósitos a busca da Pedra Polida Perfeita de cada um, que se dá pela mera conversão de si mesmo num modelo útil e proveitoso para toda a família e para a humanidade em geral, recomenda que se traga luz à consciência, a fim de combater também esse mal da ignorância, até porque a maior vítima da soberba é ela mesma, que mais cedo ou mais tarde acabará isolada, aprisionada pela sua própria autossuficiência.

Todos nós já nascemos picados pela Serpente. A soberba e o orgulho são venenos que não matam de uma vez, mas que podem se espalhar pelas veias. Começa aos poucos, de forma sutil, paralisando nervos, matando a sensibilidade, até que chegue ao sistema nervoso central e domina a razão. Se a vítima não tomar o antídoto em tempo, é fatal: estará contaminada pelo veneno da autossuficiência.

Afinal, o que o soberbo busca é a admiração, mas ignora um efeito colateral que é a compaixão das pessoas pelo humilhado e o desprezo ao opressor orgulhoso. A correção da soberba ocorre única e simplesmente pela virtude da humildade. É agindo com simplicidade que se consegue combater a soberba nas suas mais diversas formas, evitando a ostentação, contendo as vaidades e olhando o mundo não apenas a partir de si, mas principalmente ao redor de si.

O antídoto de humildade inclui uma dose saudável de moderação nas palavras e no pensamento. É indispensável reconhecer que cada um de nós carrega tesouros valiosos em seu próprio templo de virtudes, mas somos como vasos de barro; viemos do pó e ao pó voltaremos; todos nós.

 Somos da mesma natureza, criaturas vivas e maravilhosas, mas ao mesmo tempo cheios de diferentes imperfeições aos olhos humanos, seres pensantes e capazes, mas em constante transformação, e até o mais importante dos homens uma hora sucumbe, sem abalar o fluxo e o refluxo do universo, que segue o seu curso evidenciando a insignificância de cada um de nós para a continuidade da vida nesta terra.

E o que nos parece uma certeza agora pode se revelar um equívoco logo ou mais adiante.

Que o G.’.A.’.D.’. U.’. ilumine a todos.
 (*) Ronaldo Zanata Pazim
 Loja Cavaleiros de São José
 Cerquilho - SP
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