Por: Eduardo Szklarz
A irmandade mística que pode ter suas raízes
no Egito antigo e se espalhou pelo mundo pregando a busca do conhecimento, a
tolerância religiosa e a harmonia entre os homens de bem.
Poucas sociedades precisaram tanto do segredo
para sobreviver como a Rosacruz. Na Idade Média, enquanto a Inquisição jogava
na fogueira quem ousasse questionar os dogmas católicos, os integrantes da
confraria se reuniam a fim de penetrar nos mistérios religiosos mais profundos.
Para isso, recorriam a fontes diversas: gnosticismo (que buscava o conhecimento
à margem do que dizia a Igreja), cabala (misticismo judaico), esoterismo
islâmico, filosofia, mitologia egípcia, astrologia e alquimia.
Era com esse repertório tão vasto que os
rosacrucianos acreditavam ser possível sair das trevas da ignorância e caminhar
rumo à sabedoria. Diziam que o autoconhecimento era a chave para a “paz do
indivíduo” e, a partir dela, o bem-estar da humanidade. Até hoje, os grupos que
se dizem herdeiros da Rosacruz pregam a tolerância religiosa, a harmonia e a
paz. O que ninguém sabe direito é como essa sociedade surgiu.
ROSENKREUZ
Não faltam teorias para a origem da ordem.
Uns dizem que ela foi criada em Alexandria, no Egito, no ano 46, quando o sábio
gnóstico Ormus e seus seguidores foram convertidos ao cristianismo. Outros
afirmam que a Rosacruz surgiu no século 17, no vácuo da Reforma Protestante. De
acordo com a lenda mais popular, no entanto, seu criador foi o monge Christian
Rosenkreuz (ou Frater C.R.C.), nascido na Alemanha em 1378. Aos 16 anos,
Rosenkreuz viajou ao Oriente Médio e estudou artes ocultas com mestres
muçulmanos. Ao voltar para a Alemanha, construiu a Spiritus Sanctum (“Casa do
Espírito Santo”), para celebrar seus rituais secretos.
Rosenkreuz teria morrido em 1484, aos 106
anos, mas sua tumba só foi encontrada 120 anos depois – o que motivou a
retomada das atividades da Rosacruz, agora sob a liderança do pastor luterano Johann
Andrae. Foi ele quem publicou 3 manifestos que mencionaram a ordem pela
primeira vez: Fama Fraternitatis Rosae Crucis (1614), Confessio Fraternitatis
(1615) e Núpcias Químicas de Christian Rosenkreuz (1616). Os textos tiveram
enorme impacto entre os europeus e não demorou para que os rosacrucianos se
espalhassem pelo Velho Mundo.
Para as fraternidades modernas que se dizem
herdeiras da Rosacruz, não importa se Rosenkreuz realmente existiu. O
importante é o valor simbólico dessa história. Suas andanças pelo mundo,
incorporando elementos de várias tradições, aludem à chamada Religião Universal
da Sabedoria. Ser cristão, por exemplo, iria além de seguir a figura bíblica de
Jesus: faria parte da busca do conhecimento oculto e esotérico.
Outro fato interessante é que o grau 18 da
maçonaria é o Cavaleiro Rosacruz. Não se trata de mera coincidência: nos
séculos 17 e 18, maçons e rosacrucianos trocaram muitas figurinhas. Eles
buscavam uma sociedade tolerante, livre de dogmas e que pudesse se aperfeiçoar
à medida que os homens ficassem mais sábios. A estrutura das duas fraternidades
também era similar. Mas havia diferenças importantes: a Ordem Rosacruz
enveredava pelo cristianismo e por caminhos místicos, enquanto a maçonaria se
guiava pelo pensamento racional.
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“No século 18, a Rosacruz fazia rituais de
admissão usando diversos símbolos. Um deles era um globo de vidro num pedestal
que tinha 7 degraus e era dividido em duas partes, representando a luz e a
escuridão”, diz Sylvia Browne, autora do livro Sociedades Secretas. “E também
usavam 9 copos, simbolizando qualidades masculinas e femininas.”
Segundo a pesquisadora, a Rosacruz contava
com o Colégio dos Invisíveis, espécie de fonte de informação por trás do
movimento. Seus integrantes acreditavam que o significado do Universo estava
explicado no símbolo da ordem. “Como a flor que brota no meio da cruz, os seres
humanos deveriam desenvolver a capacidade de amar de forma irrestrita,
compreender as leis que regem o mundo e agir por meio da intuição e da
inteligência amorosa do coração.”
HERDEIROS
Hoje, diversas sociedades se declaram
descendentes da confraria inicial. Entre elas, a Fraternidade Rosacruz de Max
Heindel, a Fraternitas Rosacruciana Antiqua e a Antiga e Mística Ordem Rosa
Cruz (Amorc). A julgar pelo que cada uma diz em seu site na internet, todas
procuram despertar o potencial interior do ser humano pela busca da verdade.
A Amorc do Brasil, localizada em Curitiba,
garante que seu método de orientação para o autoconhecimento “está à disposição
de toda pessoa sincera e de mente aberta”. Já a Fraternitas Rosacruciana, com
sede no Rio, afirma que sua finalidade é “buscar a felicidade sem distinção de
castas, cor, sexo, nacionalidade ou condição social”.
Passado nebuloso
A história da Rosacruz segundo a lenda
mais popular
1394 – Rosenkreuz vai ao
Oriente Médio para estudar artes ocultas com mestres muçulmanos.
1484 – O fundador da
Rosacruz morre na Alemanha (segundo a lenda, aos 106 anos de idade).
1604 – A tumba de Rosenkreuz
é encontrada, levando ao ressurgimento da ordem.
1614-1616 – Johann Andrae publica
manifestos rosacrucianos, os primeiros documentos a citar a ordem.
Séc. 18 – Maçons e
rosacrucianos se aproximam enquanto a ordem se espalha por toda a Europa.
Séc. 20 – Grupos como a Amorc
declaram-se herdeiros dos segredos acumulados pela Rosacruz original.
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Fonte: O Mundo de Gaya
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