APRESENTAÇÃO
As origens da Maçonaria inglesas podem ser
certificadamente traçadas por volta ao século XIII ou XIV, e provavelmente seu
primeiro documento oficial emitido em 1356, qual enuncia Obrigações e
narra sobre a formação da Companhia Anglo-Normanda[1] de Maçons
de Londres e os princípios que regem a Loja que já existia em York Minster.
Cipriano Oliveira em sua obra. Maçonaria, Passado, Presente e Futuro,
reforça a relevância desta antiquíssima Obrigação:
“Muitos consideram-no (o primeiro ato
fundador da Maçonaria Operativa, mas outros vão muito mais atrás na história. O
certo é que, não sendo o mais antigo, é o mais completo e elaborado que se
conhece. Informa que[...] 12 pedreiros, liderados por Henry Yevele (1320-1400),
foram até a Câmara de Londres, levando um esboço de um Estatuto do Trabalhador
da Pedra onde se previa, além da Obediência às autoridades locais, a fidelidade
ao Rei e à Religião vigente, um pedido para que suas reuniões fossem fechadas,
sem a presença de pessoas estranhas. Obtiveram a solicitada autorização oficial
e fizeram um Código e um Regulamento Interno, para a instalação de uma
Sociedade de Pedreiros (The Fellowship of Masons). Os seus membros passaram,
assim, a ter certos direitos e vantagens, tais como: Trânsito Livre, numa época
em que não se tinha a liberdade de viajar; liberdade de reunião naquele tempo
proibido, devido ao receio de conspirações e tramas contra os poderes
constituídos; e a Isenção de impostos.”
Estas ditas Obrigações
Anglo-Normandas são particularmente relevantes a História
Maçônica já que presumidamente foram à fonte das Obrigações publicadas
originalmente na Constituição de Anderson, que por sua vez, influenciou cada
Grande Loja em suas próprias Constituições.
INTRODUÇÃO
Não parece haver razões se para duvidar que o
[documento] Nº 1 seja a Obrigação Saxã original, como havia um fluxo constante
de maçons franceses na época da conquista[2], uma Obrigação
francesa[3] pura deve
de ter existido sendo naturalmente acrescentada aos mais antigos documentos
ingleses.
O documento de 1356 foi extraído da História
da Maçonaria de Gould. Sendo de igual valor a qualquer um que nós
possuamos, e ilustra bem o antigo MSS. de uma maneira particular. Em primeiro
lugar, as leis são decretadas pelas próprias autoridades que tais Obrigações
fazem apelo, e "seis ou quatro Anciões do negócio" são obrigados a
testemunhar para que um Mestre assuma um trabalho. Estabelece-se a disputa
entre os Maçons Cinzeladores (Mason-Hewers) e Maçons Luzidos ou Assentadores
(Light Masons or Setters)[4], e coloca-os
ambos sob juramentados Provectos ou Anciões do negócio. É ratificado que não
houve cortejo ou ordem para que alguém se tornasse um dos juramentados, e desta
forma se constituía a Companhia dos Maçons de Londres, unindo os Maçons e
Franco-Maçons[5], dos quais os
primeiros possuíam quatro representantes e os últimos possuíam 2, quais agora
tornassem iam uma Companhia Unida.
O texto do prefácio do [manuscrito]
"Cooke", na medida em que o mesmo seja completo, foi utilizado para
este documento, sendo o restante retirado do "Watson MS.", que é um
documento completo por si, mas, com muitos erros do copista. O autor cita "antigos
livros de Obrigações" existente antes de seu tempo, e ele possivelmente
equivocou-se de "Martellus" para "Secundus"[6] dado que
Charles Martel foi regente e não rei, e só “chegou ao [538] reinado por meio de
seus descendentes”, Carlos Magno foi seu neto, e possuía um neto chamado Carlos
II.
AS OBRIGAÇÕES ANGLO-NORMANDAS
Numa Assembleia entre Prefeito e
Vereadores acontecida na seguinte segunda-feira, antes da purificação da Virgem
Maria (2 de fevereiro) no trigésimo ano do reinado do rei Eduardo III, etc.
Estando presente Simon Fraunceys o Prefeito, John Lovekyn e outros Vereadores,
os Magistrados, e John Little, Symon de Benyngtone, William de Holbeche e
plebeus, alguns artigos foram ordenados no que tange o negócio dos Maçons, com
as subsequentes palavras:
1. Considerando que Simon Fraunceys,
Prefeito da Cidade de Londres, foi dado a entender que diversas dissensões e
disputas foram movidas na referida cidade, entre os Maçons que são
"cinzeladores", de um lado, e os Maçons e "assentadores",
do outro; isto porque, seus negócios não foram regulamentados de maneira
apropriada pelo governo dos Comuns da forma como outros negócios o são. Por
isso, o Prefeito proferiu que, para manter a paz de nosso Senhor o Rei, no
intuito dissipar tal sorte de dissensões e disputas, e para nutrir o amor entre
toda a gente, em honra da referida Cidade, e para o benefício das pessoas
comuns. Por concordância e conselho dos Vereadores e Xerifes, determinou a toda
à boa gente do referido negócio, ser convocada ante ele, a fim de ter com eles
boa e devida ideia como o seu negócio pode ser melhor ordenado e gerido para o
benefício das pessoas comuns.
2. Diante disso, a boa gente do
referido negócio escolhe entre si, doze dos homens mais hábeis de seu ofício,
para informar ao Prefeito, Vereadores, e Xerifes, quanto aos atos e obras que
tangem tal negócio; Isto é, Walter de Sallynge, Richard de Sallynge, Thomas de
Bredone, John de Tyringtone, Thomas de Gloucestre, e Henry de Yevelee, em nome
dos "Maçons Cinzeladores"; Richard Joye, Simon de Bartone, John de
Estoune, John Wylot, Thomas Hardegray, e Richard de Cornewaylle em nome dos
"Maçons Luzidos e Assentadores"; que esta gente seja empossada ante
ao referido Prefeito, Vereadores e Xerifes, na forma que segue:
3. Em primeiro lugar, que todos os
homens do negócio possam operar em qualquer trabalho que tange o negócio, sendo
eles perfeitamente qualificados e conhecedores do mesmo.
4. Além disso, que a boa gente do
referido negócio seja escolhida e empossada quando for necessário, a fim de
Supervisionar que ninguém do negócio tome um trabalho para fazer, se este não
souber bem e perfeitamente como realizar tal tipo de trabalho, sob a pena de
despesas em benefício da comunidade. A primeira vez qual ele seja condenado do
mesmo pelas pessoas juramentadas, [indenizará] um marco, a segunda vez, dois
marcos e a terceira vez, que ele deve renegar seu negócio para sempre.
5. Além disso, que ninguém deva tomar
uma carga de trabalho, caso ele não tenha capacidade necessária para concluir
tal trabalho; e aquele que pretenda realizar esse tipo de carga de trabalho,
deva ter com a boa gente de quem ele tomou tal trabalho para fazer e completar,
[543] devendo trazer com ele "Seis" ou "Quatro" Anciões de
seu negócio, para tal juramentados, estando eles preparados para testifica-lo
para a boa gente da qual tomou tal trabalho para fazer, que ele é forte e
capacitado o suficiente para fazer tal tipo de trabalho, e que ele possa
permiti-lo concluir esse trabalho da devida maneira, ou então, que este não
tenha a capacidade de fazer o mesmo, eles se assim testemunhem, de que ele é
forte e capacitado o suficiente para terminar o trabalho, são obrigados a
completar tal trabalho, bem e corretamente, em suas próprias taxas, de mesma
forma que ele tenha se comprometido no caso do empregador que detenha o
trabalho ter tido pago integralmente o trabalhador. E ainda, se o empregador
deve nada deixar para pagar às pessoas que tenham empreendido por ele a fim de
concluir tal trabalho.
6. Além disso, que ninguém deva tomar
um Aprendiz ou operário para o trabalho, sem a presença de seu Mestre, e antes
que ele tenha sido corretamente informado deste convite; e quem fizer o
contrário, e por uma pessoa juramentada for condenado do mesmo, deverá
indenizar na primeira vez para a comunidade, meio marco, na segunda vez um
marco e na terceira vez 20 shillings; e assim obrigá-lo pagar 20 shillings a
cada vez que ele seja condenado do mesmo.
7. Além disso, que ninguém do
referido negócio seja um Aprendiz por tempo inferior a sete anos, de acordo com
o uso da Cidade, e a quem faça o contrário disto, que seja punido da mesma
forma.
8. Além disso, que os referidos
Mestres escolhidos, atentem que todos aqueles quais trabalham por jornada,
tomem o seu pagamento de acordo sua qualificação e merecimento do seu trabalho
e não desproporcionalmente.
9. Além disso, que, ninguém do
referido negócio seja diretamente regulado ou dirigido elas pessoas
juramentadas de seu negócio, essas pessoas juramentadas deverão dar a conhecer
o seu nome ao Prefeito, e do Prefeito o parecer favorável dos Vereadores e
Xerifes. Levando-o então, a ser punido com a prisão e outras penas, de modo que
outros transgressores possam ter ele como um exemplo, desta maneira, sendo
[apropriadamente] geridos pela boa gente de seu negócio.
10. Além disso, que ninguém do
referido negócio seja Aprendiz de outro ocasionando prejuízo ou dano a seu
Mestre, até que suas obrigações tenham sido totalmente cumpridas, sob a pena de
pagar para o benefício da comunidade, meio marco a cada vez em que ele seja
condenado do mesmo.
Autoria de Tiago Roblêdo M.'. M.'.
Fonte: Pedra Oculta
Visita Interiora Terrae Rectificando
Invenies Occultum L
REFERÊNCIAS
http://pt.wikipedia.org/wiki/Normandos
http://pt.wikipedia.org/wiki/Eduardo_III_de_Inglaterra
http://www.rgle.org.uk/RGLE_1356.htm
Maçonaria:
Passado, Presente e o Futur,- Cipriano Oliveira
O
Ofício do Maçom, Harry Carr
[1] Em 911, o rei
da França cedeu a um líder invasor viking, Rollo ou Hrolf, o ducado da
Normandia, na esperança de que esses Vikings defendessem o país de novos
ataques estrangeiros, fossem Vikings também ou não. Rollo aceitou o tratado e
se instalou no território que em alguns anos de conquistas e anexações seria
transformado na Normandia. Em 1066, os normandos vencem a Batalha de Hastings,
e com isso conquistam o trono inglês. A língua inglesa moderna surgiria da
união entre os idiomas dos anglos e saxões com o francês trazido pelos
normandos. Em 1154, Henrique II marcou o fim do período normando na Inglaterra.
Já no fim do século, nenhum normando ainda se considerava normando, nem mesmo
na própria Normandia. Durante a Revolução Francesa, a cultura normanda foi
praticamente extinta, mas ainda existem vestígios desta cultura nas Ilhas do
Canal.
[2] Conquista
normanda da Inglaterra foi a invasão e ocupação do Reino da Inglaterra no
século XI por um exército normando, bretão e francês liderado pelo duque
Guilherme II da Normandia, mais tarde Guilherme, o Conquistador.
[3] Supões que as
técnicas de construções primitivamente empregadas naquelas ilhas (Inglaterra,
Escócia, Irlanda etc.) foram importadas do continente e mais especificamente da
França durante a Idade Média (a luz veio do Oriente para o Ocidente).
[4] Era comum
naquele período a divisão dos construtores (Maçons Operativos) em classes de
especialistas, neste caso, Cinzeladores (Hewers) cuidavam dos preparo das
pedras-francas e os Assentadores (Setters) cuidavam de erigi-las propriamente
nas edificações.
[5] Outra
classificação própria daquele período, desta vez se referia a autonomia e
proficiência dos construtores. Enquanto o (simples) Maçom era um operário de
construção com sede fixa em determinada comunidade, o Franco-Maçom
possivelmente recebeu maiores instruções no Ofício em uma Loja oficialmente
constituída e possuía a prerrogativa de operar em diferentes comunidades.
[6] As Antigas
Obrigações em sua maioria seguem um formato semelhante, no qual é incluído uma
“História do Ofício” antes dos estatutos em si, nestas narrativas, Carlos
Martel é figura constante.
[7] Eduardo III
(Windsor, 13 de novembro de 1312 – Londres, 21 de junho de 1377) foi o Rei da
Inglaterra de 1327 até sua morte, ele é lembrado por seus sucessos militares e
por restaurar a autoridade real depois do reinado de seu pai, Eduardo II.
Eduardo III transformou o Reino da Inglaterra em uma das maiores potências
militares da Europa, durante este reinado houve particulares desenvolvimentos
na legislação (como no caso da promulgação deste documento) e no governo.
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