Por
Luis Nassif - Jornal GGN
Não
vou arriscar análises sobre imagem de apresentador A ou B. Como telespectador
eventual do Jornal Nacional (nenhum desprezo, apenas o fato que meu
eletroeletrônico diário é o computador) sempre admirei a imagem e a postura
firme e sóbria de Fátima Bernardes e a discreta informalidade de Patrícia Poeta, especialmente na campanha da
Copa. Quando não avança além das chinelas, o próprio William Bonner, é um
senhor apresentador.
Houve
desgaste recente devido à perda de rumo do Jornal Nacional, de trocar o estilo
sóbrio por uma informalidade forçada e, principalmente, pela agressividade
vulgar do âncora opinativo, expondo ao ridículo as imagens mais valiosas do
jornalismo. Leia mais
Mas
esses fatos estão dentro de um contexto mais amplo, que não tem poupado nenhum
setor, mais o jornalismo, também a teledramaturgia: a entropia que tomou conta
da Globo, visível nas futricas da rádio corredor.
A
Globo está enferma, atacada pela doença do burocratismo, com grupos de
influência que se organizam aqui e ali, impõem nomes, ocupam espaços e derrubam
competidores.
No
tempo de Roberto Marinho havia a chamada voz do dono, uma hierarquia clara,
com comando, mas se reportando o tempo
todo para o patrão: José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, Armando Nogueira,
Evandro Carlos de Andrade, debaixo deles um estado maior de primeira, como
Daniel Filho, Roberto Talmata, Alice Maria.
Roberto
Marinho não se atinha apenas às informações internas, mas também às externas.
Lembro-me de uma entrevista que fiz a respeito do Diário Carioca com o poderoso
Evandro Carlos de Andrade - um dos últimos comandantes de fato da Globo - e seu
receio de sofrer eventuais intrigas de Jorge Serpa, conselheiro externo de Roberto
Marinho.
Com
a morte de Roberto Marinho, os herdeiros terceirizaram a gestão jornalística e artística da Globo.
Sem uma estrutura de comando clara, a corporação passou a ser tomada por várias
disputas internas, nas quais o fator audiência passou a ser utilizada não como
bússola para ajustes, mas como arma de destruição interna.
Conclusão:
criou -se tal ambiente de insegurança que praticamente matou a criatividade da
empresa.
Nos
tempos de Boni, o lançamento da programação anual da Globo era uma celebração.
Os últimos programas de impacto da Globo foram lançados inacreditavelmente por
sua sucessora, uma senhora auditora com parca experiência em TV.
Depois
dela, nada mais. Envelhecem os programas, os apresentadores, os repórteres. Não
há um lançamento novo, uma ousadia nova.
O
melhor do jornalismo televisivo da Globo foi a Globonews, última obra do
talento discreto de Alice Maria.
Na
teledramaturgia, o quadro não é diferente. Cadê os musicais maravilhosos, que
marcaram a vida de gerações? Cadê a criatividade da programação infantil? Cadê
as novelas inovadoras?
Dia
desses assisti a alguns capítulos de novela e, agora acostumado com as séries
norte-americanas, me espantei com o estilo de interpretação. Lembrava em muito
o padrão mexicano de alguns anos atrás, com caretas, caras indignadas, olhares
desafiadores, boca dura e sobrancelhas levantadas, de Sarita Montiel.
Julguei
que fosse específico daquela novela. Assisti outras: o mesmo padrão.
É
evidente que, com o avanço da TV a cabo e da Internet, a TV aberta experimentaria
um esvaziamento. Mas, no caso da TV Globo, está sendo acelerado pela perda da
seiva vital: a ousadia que aparentemente morreu quando o burocratismo se impôs
sobre a criação.
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